Sempre gostei de ler. Mais ainda de escrever. Creio que é das coisas que mais prazer me dá fazer.
De papel e caneta sinto que sou capaz do que seja, ainda que num universo paralelo, sem tabus, nem vãos da escada, nem a hipocrisia da sociedade.
Posso ser um super-herói ou um pacato vilão. Um playboy ou um clérigo. Eu ou um outro eu (mas não vamos entrar pelo mundo Pessoaniano) Não há limites. Excepto os da nossa imaginação...
Ultimamente, sinto-me destreinado.
A escrita já não sai fluida, como se a caneta fosse um prolongamento do meu corpo e, especialmente, da minha alma. Risco e volto a riscar. Sei que nunca encontrei a perfeição mas nunca deixei de a ambicionar. E de ser exigente.
Porque também sinto que não escrevo só para mim. Que sei que isto é mais do que isto. E se estou aqui, se no meio de tudo há alguma coisa que faça sentido, para mim é escrever.
O curso suga-me as ideias e a liberdade. O tempo! Cansa-me por fora mas principalmente por dentro. Desgasta-me com a frieza das palavras e termos científicos e faz-me esquecer de como é belo escrever... e desfrutar da escrita. Já pouco escrevo no blog, neste cantinho onde outrora tanto tempo passava...
Mas recuso deixar-me levar. Não quero ser mais um autómato pseudo-científico. Quero mais. E não abdico da escrita. Não quero nem vou abdicar.
Tenho tempo. Hei de conseguir combater esta inércia que cai sobre mim e me sufoca. Tantos projectos imaginados e nenhum cumprido. Não quero ser um "Vencido da Vida"! Não quero ser um Eça conformado, deixem-me sonhar como o Camões, disfrutar da vida como Bocage ou descobrir-me como pessoa.
Lobo Antunes (o escritor, não o que tem a mania) escreveu que "um dia há de amar uma pedra"... Eu digo que um dia hei de escrever um livro. E talvez só aí consiga com que o meu universo se equilibre. Essa é a minha verdadeira ambição. E não abdicarei!
Quero ser médico. Tenho essa convicção e luto dia após dia para consegui-lo. Mas se por acaso algum dia tiver que optar... não abdicarei!
